SALADA RUSSA EM PARIS
"Okno V Paris",Rúusia/frança,
1993 Direção: Youri Mamine, Mikhailov
Eis uma produção franco-russa que nos deu
uma fórmula bastante interessante. De hà muito não se via tal mistura, agora
diante do desmantelamento do império comunista russo.
O filme parece simbolizar isso mesmo: o
restolho que ficou da poderosa Rússia de Lenine, Stalin, Kruchov e Gobachov. Um
povo que vive em estado etílico de ressaca constante. Tão grande a ressaca que
vez por outra dá-se o prazer de nutrir as mais estouvadas fantasias. Como essa
de, através de uma simples passagem -- naturalmente mágica -- sair-se de
S.Petersburgo e adentrar-se, de repente, em Paris, a Cidade Luz.
Lá, a baderna, a bebedeira, as mulheres
matronas, os homens histriônicos, aqui a música, as ruas limpas, pessoas
sorridentes, mulheres esguias, lindíssimas, cidadãos educados.
Esta comédia é dirigida pelo cineasta
russo Youri Mamine. Um músico, Gorokhov, e seus amigos fazem uma bebedeira em
casa e inesperadamente descobrem no fundo de um armário uma passagem que os
leva nada menos que a Paris. Trata-se de uma janela mágica. Ora o grupo está em
São Petersburgo, ora está em Paris. Cada um faz o uso que melhor lhe convem. O
músico, por exemplo, quer fugir de vez da situação em que se acha, professor
medíocre de uma medíocre escola, onde seu comportamento progressista é
combatido.
Na realidade, é uma sátira à própria
situação da Rússia atual, berço de músicos notáveis no passado, hoje relegada a
uma espécie de escória mundial, com o acúmulo de problemas sociais, econômicos,
políticos e morais legados pelo regime comunista recém-desmoronado( MMV) .
Salada Russa em Paris
/ Salades Russes, ou Okno v Parizh
De: Youri Mamime, França-Rússia, 1993
Nota:
Anotação em 1995: Um belo filme, inteligente, divertido e ao mesmo tempo emocionante sobre
a difícil passagem do comunismo para o capitalismo na Rússia de hoje, com bons
comentários sobre consumo, solidariedade e amizade. Tem grande dose de realismo
fantástico, um pouco do encanto com a infância que estava em Um Dia, um Gato,
um grande respeito pelo ser humano sensível, em especial pelo artista (é a arte
que liga os principais personagens, o professor-músico russo e a escultora
francesa), uma visão negra da vida na Rússia mafiosa de Yeltsin e um tanto de
respeito pelos valores que a Revolução tentou implantar e que o fim do
comunismo levou embora. Lembra, nesse ponto, o grande filme de Szabo quando ele
voltou à Hungria natal, o tristíssimo Queridas Amigas. O
diálogo em que o professor-músico tenta convencer as crianças a deixar Paris
para voltar à privação de São Petersburgo me fez chorar: “Nascemos num lugar e
numa época errados, vivemos num país pobre, mas se não estivermos lá não vamos
conseguir fazer nada pra mudar isso”.
Resenha para a revista Bárbara, em 1996:
De um lado, um quase inferno, o pior de
todos os mundos, a privação das coisas mais básicas, como comida e moradia
decentes. Do outro, uma visão do paraíso, a terra prometida de todas as
tentações materiais imagináveis. Salada Russa em Paris (Salades
Russes, Rússia-França, 1993, Flashstar) é sobre uma janela fantástica que
separa e ao mesmo tempo une esses dois universos antagônicos. A janela – em uma
habitação coletiva para várias famílias na São Petersburgo empobrecida pelo
desmoronamento do comunismo – é descoberta pelos moradores do lugar, um bando
de personagens malucos, hilariantes, e no entanto tão parecidos com a gente.
Eles abrem a janela na Rússia e – Shazam! – do outro lado estão no coração de
Paris. A partir desse passe de mágica, o diretor Youri Mamine cria uma fábula
deliciosa, inteligente e emocionante sobre a difícil passagem para o
capitalismo na Rússia de hoje, repleta de bons comentários sobre sociedade de
consumo, solidariedade e amizade. O filme tem um grande respeito pelo ser
humano sensível, em especial pelo artista (é a arte que liga os principais
personagens, o professor-músico russo e a escultora francesa), uma visão negra
da vida na Rússia mafiosa de Yeltsin e um tanto de respeito pelos valores que a
Revolução tentou implantar e que o fim do comunismo enterrou de vez. O diálogo
em que o professor-músico tenta convencer as crianças a deixar Paris para
voltar à pobreza de São Petersburgo é de arrepiar.
Salada Russa em Paris/Salades Russes, ou Okno v Parizh
De Youri Mamime, França-Rússia, 1993.
Com Agnès Soral, Serguei Dantsow, Nina
Oussatova, Victor Mikhailov.
Roteiro Youri Mamine e Arkadi Tigai
Música Youri Mamine e Alexei Zalivalov
Cor, 87 min
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